
Época - O senhor é a pessoa mais importante do mundo do vinho. Não é uma responsabilidade muito grande?
Robert Parker - Minha influência realmente é grande. Isso, às vezes, se torna um problema. Em todos os aspectos da vida, quanto mais influente você é, mais é cobrado para fazer um bom trabalho. Todas as atenções se voltam para o seu desempenho. Como faço isso há quase 30 anos, estou acostumado. Sei que ter um grande poder traz muita responsabilidade. Por isso, procuro ser o mais justo possível nas avaliações que eu faço.
Época - Muitas pessoas dizem que o senhor tem o monopólio da crítica de vinhos no mundo. O que o senhor acha disso?
Parker - Não concordo com essa avaliação. Acho que sou o crítico mais influente do mundo, mas há outros tão talentosos quanto eu. Não sei por que minha influência ofusca o brilho dos outros.
Época - Muitos consumidores olham apenas a nota que o senhor dá para um vinho antes de comprá-lo. O que fazer quando eles encontram um vinho de US$ 30 e outro de US$ 100 com a mesma pontuação?
Parker - Não acho que os consumidores só olham para as notas. Essa é uma crítica comum a meu trabalho. Quem gosta de vinho lê os comentários sobre as degustações, questiona as avaliações e forma a própria opinião. Vinhos não podem ser avaliados de forma científica. Se um vinho barato e um caro têm a mesma nota, é porque eles têm qualidade semelhante. Não significa que um deles não possa evoluir mais que o outro ao longo do tempo. Isso pode influenciar no preço. Um vinho é bom ou ruim de acordo com o gosto de quem toma. Eu tomo e faço minhas avaliações. Só isso. Acho que os consumidores são inteligentes o suficiente para ler meus comentários e concordar ou não com eles antes de comprar.
Época - Seus comentários influenciam o preço dos vinhos. O que o senhor gosta é valorizado, o que o senhor não gosta é desprezado. O que o senhor acha disso?
Parker - A especulação em relação ao preço só ocorre com vinhos top de linha. Com os mais raros, que recebem as melhores notas e avaliações. Nunca acontece com as centenas de bons vinhos que estão à venda, sobretudo os das novas regiões produtoras, fora da França e da Itália.
Época - Seus críticos dizem o contrário. Acham que o senhor padronizou o mundo do vinho. Que muitos produtores fazem vinhos de acordo com seu gosto, e, por isso, todos ficam iguais.
Parker - Não me importo com essas críticas. São coisas que aparecem em filmes como Mondovino (documentário feito pelo cineasta americano Jonathan Nossiter que critica ícones da indústria do vinho por padronizarem demais uma bebida que, para ele, deve ser uma expressão cultural). Para mim, o filme é uma caricatura malfeita de grandes personagens do mundo do vinho, como (o enólogo francês) Michel Rolland e (o produtor americano) Robert Mondavi. E presta um desserviço ao consumidor. Existe uma variedade muito maior de bons vinhos no mundo hoje que há 30 anos, quando eu comecei minha carreira. Uvas foram descobertas pelos produtores, novos países passaram a produzir vinhos de qualidade, a diversidade é quase infinita. Portanto, o que eu padronizei? O argumento dos críticos é totalmente sem fundamento.
Época - Como o senhor avalia os vinhos?
Parker - Compro todos os vinhos que avalio. A não ser quando vou à vinícola para degustá-los direto no barril. Não aceito presentes e jamais avaliei nenhum vinho que recebi dos outros, pois isso comprometeria minha credibilidade. Também nunca pedi vinhos para as vinícolas. Recebo centenas de caixas de vinhos dos produtores de forma não-solicitada. Bebo alguns, dou outros de presente, faço doações. Mas jamais, em hipótese alguma, avalio esses vinhos.
Época - Qual foi o vinho mais caro que o senhor já comprou?
Parker - Não me lembro. Compro vinhos caros quase todos os dias. Mas não avalio vinho nenhum pelo preço. Na maioria dos casos, há vinhos mais baratos que são tão bons quanto os caros. Acho que só vale a pena gastar muito se você estiver interessado em entender o trabalho do produtor. Em tentar saber o que aquele vinho tem de tão especial para custar tão caro. Se você não estiver disposto a isso, é melhor procurar um vinho mais barato.
Época - Quanto um vinho bom deve custar? Existe um valor máximo?
Parker - Não acho que exista um preço máximo para um vinho. Para alguns entusiastas, US$ 100 é uma quantia inexpressiva. Para outros, é muito caro. Acredito que um bom apreciador de vinhos, com o tempo, adquire a experiência necessária para identificar vinhos maravilhosos que custam entre US$ 15 e US$ 35. É algo que se consegue através da experiência.
Época - O que os consumidores devem fazer para comprar um bom vinho? Existe uma fórmula para não errar na escolha?
Parker - É impossível encontrar a fórmula do vinho perfeito, pois ela depende do gosto de cada um. Meu conselho é: beba. Quanto mais você toma vinho, mais aprende a comprar direito.
Época - Países como Austrália e Chile passaram a vender mais vinhos que a França e a Itália. Como o senhor vê essa guerra entre os vinhos do Novo e do Velho Mundo?
Parker - Não há guerra, mas apenas uma maneira diferente de fazer vinhos. Os países do Novo Mundo apostam em tecnologia. Quando usada de maneira apropriada, tecnologia é progresso. Portanto, os potentes vinhos australianos devem ser tão admirados quanto os elegantes vinhos franceses. Os vinhos do Novo Mundo são tão bons quanto os europeus. Mas têm um estilo diferente. E têm a vantagem de, normalmente, ser mais baratos. Isso é bom para o consumidor.
Época - Quais são as qualidades mais importantes que um bom vinho deve ter?
Parker - Somente uma: proporcionar prazer para quem bebe. Vinho bom é aquele que você gosta. Simples assim.
Fonte: Eduardo Vieira - Revista Época
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