Valle de Rapel, um terroir, duas expressões.

São tantos os vinhos de qualidade que muitas vezes nos esquecemos de dar a devida atenção à região de origem dos vinhos que prazerosamente degustamos. A fama de algumas uvas ultrapassaram sua localidade e se transformaram em ícones, entretanto, apesar de toda a evolução que a enologia tem experimentado nos últimos anos, a expressão do terroir deve ser muito considerada. O Valle de Rapel, uma das mais tradicionais e importantes regiões vitícolas chilenas que ao lado do Valle de Maipo perpetrou o estilo e a fama da Cabernet Sauvignon e da Carménère chilena mundo afora.

Distante poucas horas da capital chilena, o Rapel está dividido em duas zonas, Valle de Cachapoal e Valle de Colchagua, ambas cortadas por montanhas e colinas e onde as vinhas se espalham pelas paredes de pedra a perder de vista. A superfície irregular faz com que as uvas se beneficiem tanto da brisa marítima da costa como do manto frio da Cordilheira. O resultado desta configuração é um vinho de cor escura, aroma concentrado e sabor frutado estruturado por taninos macios.

Décadas atrás se acreditava que a grande fertilidade do solo e o alto índice freático apenas proporcionariam vinhos ordinários, diluídos e baratos. A história começou a mudar nos anos de 1980 quando muitos enólogos retornaram à pátria, vindos dos Estados Unidos, Austrália e França trazendo consigo novas idéias e tecnologias que ajudaram a desenvolver essa região especial para o cultivo das uvas Carménère e Cabernet Sauvignon.

No Valle de Cachapoal durante o verão o sol brilha com intensidade e o clima é quente, mas a proximidade dos Andes faz a diferença térmica entre o dia e a noite chegar a 20°C. Da Cordilheira, desce uma névoa que cobre e hidrata as uvas durante a noite, o que é perfeito para o amadurecimento de tintas de ciclo longo como a Carménère. Entre Peumo e Las Cabras, as franjas da Cordilheira formam uma estreita área plana de poucos quilômetros cortada pelo rio Cachapoal que faz um longo e tortuoso caminho até ser represado e formar o lago Rapel. Neste micro clima se desenvolve com perfeição a uva Carménère como em nenhum outro terroir do Chile.

Dentre os fatores de qualidade que beneficiam a Carménère em Cachapoal, podemos destacar a excelente drenagem do solo; por estar bem próximo da Cordilheira dos Andes o clima da região é excelente para essa casta, possibilitando ter dias muito quentes que permite o amadurecimento completo dessa uva como em nenhum outro local; também a grande diferença de temperatura permite que a uva descanse durante a noite e volte a amadurecer durante o dia.

No Valle de Colchagua a proximidade da Cordilheira e do Pacífico faz com que as vinhas da região sejam ventiladas pelo ar frio e úmido do mar, o que cria um clima Mediterrâneo. A temperatura durante o dia é alta e ultrapassa os 32°C, entretanto a influência marítima é fator determinante para a qualidade das uvas. A elevação é de moderada altitude e as vinhas são irrigadas por inúmeros lagos que recortam a paisagem. O estilo do vinho é profundo e o Cabernet Sauvignon de Colchagua possui um estilo que lembra os melhores tintos do Médoc.

O principal fator que faz com que a Cabernet Sauvignon do Colchagua tenha características únicas, é que as vinhas são plantadas em terrenos escarpados e pedregosos diferentes dos demais terroirs chilenos, também a constante névoa marítima influencia no amadurecimento das vinhas moderando o clima durante o dia e a noite, outro fato é que a região possui muita luminosidade, que é um fator adequado ao amadurecimento dos taninos.

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