Regiões Francesas: Jura.

A região vinícola do Jura, localizada no leste da França, a apenas 80 quilômetros ao oeste de Borgonha, é a região francesa com a menor área cultivada de vinhas, aproximadamente 4.000 acres. Apesar de não ser muito conhecida no mercado brasileiro, ela produz vinhos inimitáveis e de excelente qualidade.

Situada ao sul de Lons le Saunier e ao norte de Arbois, nas colinas ocidentais das montanhas Jura, o solo pré-histórico de mármore e calcário deu ao mundo a origem do termo genérico “jurássico”. Evidências históricas revelam a existência de vinhas na região desde o século X, mas acredita-se que o cultivo de uvas tenha começado bem antes, em meados do século III. Jura produz diversos tipos de vinhos, entre eles o tinto, branco, rosé, espumante e de sobremesa, uns mais notáveis que outros, e por isso vamos conhecer agora os melhores da região:

Esteiras onde as uvas são desidratadas
O Vin de Paille (“vinho de palha”), conhecido como “o néctar de paciência”, esse vinho doce é produzido a partir das castas brancas Chardonnay, Savagnin e Poulsard. As uvas são colhidas à mão, cuidadosamente selecionadas, e depois estendidas em esteiras de palha para secar, e daí vem o nome “vinho de palha”. O processo tem a duração de seis semanas e as uvas atingem um nível de desidratação de 80%. Depois da fermentação, o vinho é envelhecido em barris de carvalho durante um período de dois a três anos. Seus aromas de frutas secas, mel, caramelo e nozes seduzem qualquer pessoa.

O Vin Jaune (“vinho amarelo”), um dos vinhos mais desejados mundialmente, ele é comparado ao vinho espanhol Jerez devido às similaridades em sua produção. A maturação também ocorre em barris de carvalho e o vinho é protegido por uma camada de levedura como a flor formada no vinho Jerez, que na França é chamada de voile (véu em francês, uma levedura que da complexidade ao vinho e o protege parcialmente da oxidação). Essas similaridades também se aplicam aos aromas, mas diferente do vinho Jerez, o Vin Jaune não é fortificado, ou seja, não possui a adição de aguardente. Ele é produzido a partir de uma colheita tardia da casta Savagnin, a fermentação ocorre lentamente em barris e a camada de levedura, voile, demora três anos para se desenvolver completamente, o que significa que o vinho é levemente exposto ao oxigênio e por isso possui características oxidativas. O vinho de cor amarela tem forte aroma de amêndoas, nozes e curry, que são gerados em um período de seis anos em que o vinho é envelhecido em contado com o carvalho e com a levedura.

O Mac Vin, conhecido desde o século XIV, por vezes é confundido com licor. Pode ser produzido a partir de cinco variedades de uvas permitidas na região, sendo tinto ou rosé quando produzido a partir da Poulsard, Trousseau e Pinot Noir, ou branco quando produzido a partir de Chardonnay ou Savagnin. A colheita é tardia, feita quando o teor de açúcar nas uvas está mais elevado. O mosto é primeiro envelhecido em barricas de carvalho durante 12 meses sem fermentação e depois Marc (espécie de aguardente) é então adicionado em uma medida de um litro para cada dois de mosto. O nível alcoólico da aguardente mata as bactérias responsáveis pela fermentação, evitando que ela ocorra, o que deixa para trás o açúcar residual e um vinho de sobremesa fortificado.

Vejam abaixo algumas sugestões de harmonização com os vinhos da região do Jura.

- Vin de paille - foie gras, crème brûlée, bananas flambadas e cheese cakes.
- Vin Jaune - ele é particularmente apreciado com o queijo Comté (também produzido na região) e nozes. Acompanha muito bem todos os tipos de queijos, de macios a duros, também todos os tipos de frios, sendo assim uma perfeita escolha para uma noite de queijos e vinhos. Com pratos com molhos à base de creme (filé mignon ao creme de cogumelos), foie gras e lagostim.
- Mac Vin - geralmente apreciado como um aperitivo, servido gelado com jamón e melão. Podemos também servi-lo com sorvete de baunilha ou caramelo. * Flor – levedura formada na produção de Jerez Fino e Manzanilla, elas se formam na superfície do vinho e são capazes de fermentar os açúcares restantes do vinho de forma anaeróbica, criando mais complexidade e aromas característicos ao vinho Jerez. Ela também proporciona uma proteção ao vinho contra oxidação.

O texto é da excelente profissional Juliana F. que é formada em administração hoteleira na Universidade Senac e Sommelière na CAPS (Associação Canadense de Sommeliers Profissionais) reconhecida pela ASI. Atualmente vivendo em Paris onde faz sua especialização em vinhos franceses.

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