Envelhecendo vinhos mais simples.

Antigamente era absolutamente necessário guardar a maioria dos vinhos tintos por alguns anos antes de consumi-los. De fato, até algumas décadas atrás, os vinhos costumavam apresentar uma acidez muito elevada. Uma vez que os produtores não arriscavam esperar mais tempo para colher as uvas quando ia estivessem mais maduras - isso por medo das chuvas de outono, que podiam arruinar uma safra no último momento. Além disso, as uvas costumavam ser fermentadas com o engaço (aqueles raminhos que ligam as uvas aos cachos), o que aportava um alto nível de taninos ao vinho, sobretudo taninos bem mais duros, que precisam de muitos anos para serem amaciados. Em outras palavras, era muito difícil beber um vinho novo, e os vinhos eram incomparavelmente melhores depois de alguns anos de envelhecimento. Os taninos mais duros e a alta acidez, incômodos no início, evoluíam lindamente em vinhos de grande finesse e muita longevidade.

Hoje em dia, por uma infinidade de motivos, os vinhos já chegam ao mercado em condições de serem bebidos com prazer - mas isto não significa que não melhorem com o envelhecimento, Criou-se certo consenso de que apenas os melhores vinhos - os grandes vinhos - precisam de algum envelhecimento. Isso não é verdade, como bem explica Matt Kramer em um recente artigo publicado na Wine Spectator. Segundo Kramer, a maioria dos vinhos tintos melhora com algum envelhecimento. Com exceção dos mais leves, como os Beaujolais mais simples e frescos ou os Bardolino, a maioria dos vinhos tintos realmente ganha com um ou dois anos de garrafa, desenvolvendo uma certa complexidade, charme e equilíbrio - o que contraria a moda de hoje em dia que faz com que muitos consumidores já considerem velho um tinto de mais de dois ou três anos, o que seria impensável algumas poucas décadas atrás!

De fato, em muitos casos, os vinhos mais simples podem envelhecer – e melhorar bastante - não somente por alguns anos, mas mesmo por vários anos, adquirindo uma personalidade totalmente diferente, que encanta muitos enófilos. É aquilo que costumamos chamar de um "gosto adquirido" – uma experiência que pode acrescentar uma nova dimensão a apreciação dos vinhos, e não somente dos mais caros. Na realidade, no passado os vinhos maduros sempre foram os mais valorizados e disputados. Experimente guardar alguns vinhos mais simples em sua adega para prová-los daqui a um ou dois anos, ou mesmo mais tempo: você poderá ter uma boa surpresa!

Fonte: Mistral

2 comentários:

  1. Olá Silas,

    Concordo com o post. Essa semana tive a oportunidade de tomar um vinho relativamente simples, Marques de Tomares Reserva 2001 e o mesmo está sensacional. Acredito que o relativo tempo de garrafa (10 anos) tenha contribuído de forma considerável para sua evolução.
    Abraços

    Eduardo

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  2. Também sou adepto!

    Se quiser está convidado.

    Raphael Baruki.

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