A estratégia do oceano azul dos vinhos.

A Cabernet Sauvignon, nas uvas tintas, e a Chardonnay, nas brancas, parecem reinar absolutas nos vinhos modernos. Versáteis, as duas variedades de origem francesa se adaptam bem às condições de países como o Chile, a Itália ou a África do Sul. E, independentemente dos bons vinhos elaborados com elas em cada região, seu sucesso também resulta em certa padronização de aromas e sabores dos brancos e tintos. Nada contra, principalmente quando os vinhos são bem feitos e prazerosos ao ser provados.

Mas há vinicultores que começam a enxergar nesse mar de uvas francesas um espaço para fazer vinhos diferenciados, com as chamadas uvas nativas, autóctones de uma região ou de um país. Saem de cena uvas como a Cabernet Sauvignon, a Syrah ou a Merlot e entram a Nero d'Avola, na Sicília, e a Fiano, na Campanha. Ou a tinta Touriga Nacional e a branca Antão Vaz, em Portugal. "Há produtores apostando, cada vez mais, na maior variedade de castas frente à internacionalização das uvas e dos vinhos", diz a expert inglesa Jancis Robinson, que ostenta o cobiçado título de Master of Wine. Autora de vários livros, editou o Guia de Castas, em que lista mais de 800 nomes de uvas pelo mundo vinícola.

As uvas autóctones trazem ao vinho aromas e sabores próprios. "Se fizer um bom Cabernet, serei apenas mais um produtor no mundo a fazê-lo", diz o português Paulo Laureano. Famoso por elaborar tintos nobres, como o Mouchão, decidiu replantar os seus nove hectares de Cabernet Sauvignon, que são parte de um vinhedo com 80 hectares. No lugar, colocou a Alicante Bouschet, cepa que, apesar de francesa, não tem status no próprio país, mas resulta em vinhos de qualidade nas áreas quentes do Alentejo. É, como os lusitanos gostam de dizer, uma cepa portuguesa por adoção. "Decidimos só trabalhar com as cepas autóctones portuguesas", diz.

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